Ex-escravas sexuais relatam rotina de horror imposta pelo Estado Islâmico

PATRÍCIA CAMPOS MELLO
FABIO BRAGA
ENVIADOS ESPECIAIS AO IRAQUE
Noticias do UOL


Sanaa se preparava para almoçar com a família quando eles chegaram em picapes brancas Toyota e Kia. Armados com metralhadoras, os milicianos do Estado Islâmico gritavam: "Vocês são infiéis, vocês são infiéis!".

Separaram mulheres e crianças para um lado, homens para o outro.

Foi a última vez que Sanaa viu seu pai e seu irmão de 15 anos. Sanaa, 21, e suas irmãs, Hanaa, 25, e Hadyia, 18, foram levadas do vilarejo iraquiano de Kocho para Mossul, sob controle do EI. Lá, ficaram presas em uma casa com mais de cem mulheres.

De vez em quando, os milicianos levavam uma das mulheres para uma sala e a estupravam. "Diziam que tínhamos de nos converter", conta Sanaa, os olhos baixos.

Enquanto milhões se horrorizam com cenas do piloto jordaniano queimado vivo e dos jornalistas decapitados pelo EI, mais de 2.000 mulheres iraquianas continuam vivendo um pesadelo bem longe das câmeras.

Elas são mantidas como escravas sexuais, "esposas" ou servas de integrantes do EI na região de Mossul, no Iraque, e em Raqqa, na Síria, as "capitais" da facção terrorista.

As mulheres fazem parte da minoria religiosa yazidi e foram sequestradas em agosto de 2014 perto de Sinjar.

A Folha falou com algumas das 279 mulheres que escaparam e vivem em campos de refugiados em Khanke e Sharia, no norte do Iraque.

"Era como se fosse um mercado, eles vinham e escolhiam as mulheres que queriam comprar", diz Sanaa.

As mais jovens e bonitas eram dadas de "presente" para milicianos estrangeiros. As restantes eram "usadas" pelos locais.

Sanaa foi vendida com suas irmãs e levada para Raqqa. Lá, era frequentemente estuprada por estrangeiros.

"Acho que eles eram russos ou do Cazaquistão", diz. Milhares de estrangeiros, muitos deles ocidentais, se uniram ao EI.

O EI publicou comunicado afirmando que as mulheres yazidis, ao contrário de judias e cristãs, que são das religiões de Abraão, poderiam ser escravizadas. Os radicais consideram os membros da crença "adoradores do diabo".

"Deveríamos lembrar que escravizar as famílias dos infiéis e tomar suas mulheres como concubinas está firmemente estabelecido na Sharia [lei islâmica]", diz o texto.

O EI informa que, se a capturada for virgem, o soldado "pode ter relação sexual com ela imediatamente após a captura; se não for, o útero precisa ser purificado antes" e "é permitido comprar, vender e dar de presente as capturadas, já que elas são apenas uma propriedade".

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